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  • Foto do escritorPixote Mushi

Matéria ao jornal Diário do Grande ABC.

A história de Clodoaldo Almeida da Silva é, em partes, parecida com a de muitas pessoas Brasil afora. Após perder o pai, sua mãe, Zilda Lopes de Almeida, teve de assumir todas as despesas da casa. Ela não pensou duas vezes e foi à luta. Mas em muitas ocasiões, durante as atividades como doméstica, tinha de levar o filho junto. Sorte dele. Pois foi durante esse período que a arte o tocou. “Lá tinha muito papel, canetinhas, tintas etc. Comecei a desenhar e ela (mãe) nunca mais parou de me dar cadernos. Percebeu que isso me fazia ficar quieto”, brinca ele. 

Hoje, aos 34 anos, o são-bernardense, que vive em Diadema, conhecido no meio artístico como Pixote Mushi, é grafiteiro de mão cheia e xilogravurista, além de professor de artes visuais. Ele acaba de assinar arte grandiosa na cidade onde mora. A obra, Atos Migratórios, é mural com técnicas de grafite e possui mais de 160 metros quadrados. Foi elaborada na empena de prédio e pode ser apreciada na esquina da Av.Presidente Kennedy com a Rua Santo Inácio, no Centro.


Mushi conta que o mural representa a migração da família nordestina para São Paulo, em especial para Diadema, local que recebeu muitos nordestinos que vinham em busca de trabalho. Ele diz que a obra fala também de fé e  família. “Há muitas mensagens de edificação espiritual, como o farol que ilumina e dá a direção para aquele que lê o ‘Livro Sagrado’; as orações que são soltas de dentro de uma das casas e que entram no céu aberto”, afirma.

O artista trabalhou durante 20 dias para concluir a obra. Ele conta que ideia de pintar no local surgiu quando estava realizando trabalhos no Beco do Circo, ao lado do espaço. “Vi aquela parede enorme sendo reformada e logo pensei: ‘Quero pintar isso ai’”, afirma.

A rua também foi grande escola artística para Mushi, e onde fez muitos amigos. “Uma vez estava indo na feira com minha mãe e vimos alguns garotos fazendo grapixo (ponto de encontro da pichação e do grafite). Era o grupo Bando da Mão, e o ano era 1994. Lembro bem, pois era ano de Copa”, diz. Depois passou a frequentar oficinas em Diadema e não parou mais.

Para ele, o principal papel do grafite é o de dar voz aos que querem se expressar. Tanto que pinta onde pode. “Tenho trabalhos por toda a cidade. Da periferia ao Centro, dentro do shopping e nos becos. Costumo pintar com frequência em Diadema, mas tenho trabalho espalhado por todo canto”, diz.

Mushi diz que o grafite representa sua vida. Tanto que sua atuação vai além da criação artística. “A arte pode educar, sensibilizar e trazer paz. Para os jovens é muito importante. Faço visitas com frequência à Fundação Casa de Diadema, e encontro lá diversos dons”. Segundo o artista, muitos são músicos, poetas, desenhistas e atores.

Segundo ele, é importante que o poder público ofereça oficinas artísticas aos jovens. “Por meio do desenvolvimento criativo, podemos ter pessoas mais preparadas para qualquer área de atuação na sociedade. Temos que parar de pensar que criatividade é algo que está ligado somente ao ato de desenhar, pintar, ou a qualquer outro fazer artístico. As fomentações artísticas aumentam a autoestima e podem salvar muitas pessoas da depressão, por exemplo”, encerra.


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